domingo, 1 de maio de 2011

Moro onde não nasce ninguém

Lembram a história de Sucupira, cidade fictícia da obra de Dias Gomes (O Bem Amado), que foi palco dos desmandos de Odorico Paraguaçu? Naquela terra, onde reinava o desatino, as pessoas não tinham o direito de serem enterradas no solo natal por não haver cemitério. Na contramão de Sucupira, vai Uiraúna, cidade do Alto Sertão Paraibano, onde as pessoas podem se enterrar no cemitério local, mas não podem nascer nos dois hospitais do município.

O caso é que a Bem Amada (por seus funcionários), ao invés de garantir mais recursos na saúde local, vem perseguindo uma casa de saúde, que prestou há anos serviços não só ao município, como também a outras cidades limítrofes. Além disso, a Paraguaçu de Uiraúna formou um Conselho de Saúde ou Monstrengo de Saúde totalmente tendencioso, que não respeita o princípio da paridade nem o debate com a população. É estatisticamente comprovado que Uiraúna é um município eminentemente urbano, então, por que haver maior representatividade de associações rurais do que urbanas? Como pode um secretário fazer parte da representatividade civil, se ele faz parte do governo. Sendo assim, o Monstrengo de Saúde nada mais é do que uma mentira, ele foi criado para ouvir as entidades e discutir com a população, mas na verdade é um porta-voz das ordens da Paraguaçu. O resultado foi a redução dos recursos de um hospital para colocá-los em um posto de saúde. Pior ainda, as gestantes uiraunenses fazem filas nos hospitais de outras cidades para terem direito ao parto. Além de percorrerem longas distâncias em ambulâncias e carros particulares. Certa vez, uma uiraunense precisou ir para Pau dos Ferros-RN, pois os hospitais de Sousa, Cajazeiras, Pombal e Patos não podiam atendê-la devido à superlotação. Afinal, quem deveria atendê-la era o município de Uiraúna, mas o poder público prefere investir mais em festas particulares recheadas de salgados e refrigerantes do que na saúde.


Por aqui foi há muito anunciado
Nossas vidas teriam mais amores
Sem baraços, carrascos dos senhores
No tempo brevemente alcançado
Vaticínio permanente adiado
Ao futuro de quem somos cativos
Prisioneiros dos mortos e dos vivos
Vejo os bons velhos tempos sem memória
Vê seguindo essa sombra vã da história
Sem razão, sem destino e sem motivo
(Caetano Veloso)



Tancredo Fernandes

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